Seja numa maratona ou num ritual semanal, assistir a uma série é quase como um casamento. Escolher as séries favoritas do ano envolveu a qualidade das produções, mas também a recompensa por tamanho comprometimento. Fiquem agora com as cinco séries que mais valeram a pena os editores do Plano Aberto – Ana, Yasmine, Mario, Gustavo e Matheus – abrirem mão da vida social para assistir:
Cara Gente Branca (Dear White People) 5º lugar na votação dos editores
Não apenas pela temática atual e necessária, a primeira temporada Dear White People merece um apreço acima da média pelo uso de ferramentas de linguagem para enriquecer sua narrativa e transmitir camadas de significado durante os episódios. Planos, movimentos de câmera, figurinos e mesmo posicionamentos de atores dentro dos quadros passam informações sobre quem está na posição dominante, como cada personagem se enxerga e qual rumo cada situação vai tomar.
O grande diferencial de Dear White People não é sua temática, mas a forma limpa, direta e honesta com que roteiro e a direção tratam os temas abordados. Mesmo que em alguns momentos o seriado possa soar didático, professoral e até panfletário, não deixa de ser interessante ouvirmos uma perspectiva diferente sobre um assunto que, mesmo em 2017, costuma ser discutido sempre sob o olhar de homens brancos.
Deuses Americanos (American Gods) 4º lugar na votação dos editores
O livro de Neil Gaiman mistura História, mitologias e lugares reais para contar a saga fantástica de um homem entre deuses. 16 anos após o lançamento da obra de Gaiman, Bryan Fuller e Michael Green precisavam atualizar o mundo de 2001 no qual Shadow Moon vive suas aventuras e propor algo além para quem foi à série graças ao livro. Conseguiram: diferente do que normalmente se recebe numa adaptação literária, Deuses Americanos não é uma cópia da obra de Gaiman, mas uma expansão.
Apostando na direção de arte e no elenco – destaque para a Mídia de Gillian Anderson, representando figuras da cultura pop como Marilyn Monroe e David Bowie -, Deuses Americanos captou a atmosfera narrada por Gaiman, transformando cada episódio em um deleite visual de fantasia, sensualidade e agressividade. Com uma boa dose de ironia, os diálogos travados entre os personagens mantém o suspense e o surrealismo.
Better Call Saul 3º lugar na votação dos editores
Se fosse um filme, Better Call Saul certamente estaria entre os melhores – se não o melhor – do ano. A série une o o melhor do formato da TV com a linguagem do cinema: semiótica, cores, ângulos e enquadramentos dizem o que seus personagens não conseguem expressar. Paralelamente, o roteiro acompanha esse desenvolvimento de forma lenta e humana.
Em filmes, não há tanto tempo para desenvolver os personagens, o que resulta em figuras dependentes de aparência e expressão física para criarem personalidade. Em Better Call Saul, os roteiristas e diretores traçam os perfis psicológicos de seus personagens por meio de trivialidades, investindo em desenvolvimentos a longo prazo. Em vez de um arco ser criado, desenvolvido e concluído em duas horas, estes duram mais de 20, 30 horas, com tudo feito de forma mais natural e profunda. É o melhor do cinema com o melhor da televisão.
O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale) 2º lugar na votação dos editores
The Handmaid’s Tale se transformou num imprescindível documento ficcional sobre a funesta articulação que se tornou uma marca da contemporaneidade: a que há entre o projeto neoliberal mundial e a redução das liberdades e dos direitos sociais, encontrando nos movimentos neopentecostais fundamentalistas seus parceiros mais fiéis. Sob o pretexto de recuperar ecologicamente uma sociedade chamada Gilead, onde a taxa de fertilidade caiu para níveis próximos à extinção da espécie humana, um golpe civil foi instaurado e passou-se a promover um regime de exceção com completo controle dos corpos femininos e absolutização do poder masculino. Esse tema poderoso é sustentado por uma criação artística excepcional, que inclui figurinos que marcam com precisão as castas femininas, uma fotografia que nos mergulha no tempo de obscuridade moral que a série constrói, e, finalmente, a atuação avassaladora de Elizabeth Moss.
Mindhunter 1º lugar na votação dos editores
O grande diferencial de Mindhunter é a coesão visual. Mesmo quando não são dirigidos por David Fincher, criador da série, os episódios mantêm um estilo uniforme de construção narrativa, principalmente com a utilização de câmeras que acompanham as emoções dos personagens. Essas ações existem em função de construir, na temporada de estréia, a jornada de um homem em busca de sua própria essência.
Utilizando sempre o ambiente e a montagem a seu favor, a série usa e abusa de uma trilha sonora setentista, muitas vezes regional, que visa a nos imergir ainda mais nos personagens e na história. A imprevisibilidade do enredo impede a presença de episódios maçantes, um dos grandes problemas das séries televisivas, mantendo um clima sempre ativo. Se já não bastassem todos os aspectos mencionados, a série é a melhor do ano pelas atuações insanas dos personagens, guiadas por diálogos complexos e carregados de intensidade.
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