The End of the F***ing World – 1ª temporada

The End of the F***ing World – 1ª temporada

Yasmine Evaristo - 8 de janeiro de 2018

Esta é a crítica da primeira temporada de The End of the F***ing World, produção original da Netflix. Para ler a crítica do episódio-piloto, clique aqui.

Entediados com suas vidas e certos de que se manterem nelas é uma péssima escolha, o casal que protagoniza a série parte em fuga. Não é apenas a fuga física dos problemas que cada um tem, mas um afastamento mental e psicológico do que eles não aguentam encarrar.

Eles se conhecem na escola. Para James, um lugar no qual ele tem uma variedade de vítimas para escolher. Ele entende que é um psicopata e, cansado de executar pequenos animais, tem a necessidade de matar algo maior. Para Alyssa, só mais um lugar onde ela pode extravasar sua raiva. Enquanto o rapaz é um poço de desinteresse, ela é um turbilhão de ódio. Ele despreza tudo o que se encontra em seu entorno, então não se propõe a ter nenhuma manifestação do que sente. Ela precisa provocar nas pessoas irritação para ter onde descarregar seu ódio por meio de grosserias e palavrões.

The End of the F***ing World inicia com o humor sarcástico e ácido que é substituído em seu decorrer por uma certa melancolia. À medida que as personagens são desenvolvidas, acessamos as informações sobre quem elas realmente são. Assim, o entendimento que temos delas é alterado. Ambos possuem famílias instáveis.

Como um tipo de Bonnie e Clyde contemporâneos, os dois partem em uma jornada pautada na idealização. O que os aguarda é certamente melhor, ao menos é o que eles creem. Essa idealização é o encontro de Alyssa com o pai, que a abandonou há oito anos. James segue a moça, por querer transformá-la em sua vítima. Apesar dele ser alguém que não possui sentimentos, algo surge na relação com Alyssa. E isso é algo que acontece na outra direção, pois ela nutre por ele uma paixão. De uma maneira estranha eles se conectam.

O uso do pensamento para afirmarem sua escolhas, mesmo quando são contrários às atitudes mantém o tom de comicidade proposto desde o episódio piloto. Como qualquer pessoa comum, o que eles narram em sua mente são complementos e consequências dos atos no mundo palpável. Se a situação determina que eles entrem em pânico, suas faces são estáticas, como se eles não ligassem. Mas suas mentes dizem o contrário, afirmando seus receios, mesmo que a decisão tomada seja oposta a melhor solução pensada.

Eles são pessoas irritantes, desprovidas de empatia. A medida que surgem elementos que “justificam” estas personalidades egoístas, é inevitável que o espectador não se apegue à dupla. Pode parecer incoerente, mas seus defeitos são as qualidades que os tornam atraentes.

Por meio das memórias ou das situações vividas nessa fuga, o roteiro de The End of the F***ing World permite que nos deparemos e pensemos sobre relações abusivas, abandono, assédio e traumas, dentre outras situações. Essas várias camadas existentes nessa história simples de dois jovens que fogem e cometem crimes por onde passam, mostram as facetas que compõe uma pessoa.

The End of the F***ing World não está em busca de justificar ou perdoar os atos deles. No penúltimo episódio, em uma conversa entre as detetives que investigam o envolvimento deles em um crime, isto é esclarecido ao contrapor opiniões distintas. Elas conversam sobre as punições que eles dever receber. Uma tem pena deles e consegue percebe que as relações familiares problemáticas auxiliaram nesse tipo de postura. A outra, não se importa e quer apenas que eles sejam capturados e julgados de acordo com sua culpa.

Ambos, em sua jornada niilista, se pautam na suposição de que além, em uma realidade na qual apenas eles creem, existe uma vida feita para eles, livre dos problemas que eles recusam enfrentar. Mas a realidade é outra e, mesmo que eles se adiantem seus medo caminham em seu encalço. O que se pensa não é necessariamente a realidade. Assista à primeira temporada de The End of the F***ing World clicando aqui.

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