Por Gabriel Caetano
Mesmo após seu fim, o Rush é um dos fenômenos mais interessantes da indústria musical – nunca tiveram apoio das rádios ou imprensa e mesmo assim foram capazes de consolidar um verdadeiro exército de fãs devotos em torno da banda. “Time Stand Still” é um documentário que cobre R40, a turnê que contempla o quadragésimo aniversário da integração de Neil Peart ao Rush e que em consequência de seu desgaste físico também seria a última da banda.
O filme trata, entre outros pontos, como os fãs suportaram o Rush em suas diferentes fases, enquanto Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart, sempre emocionados em suas palavras, se preparam para o último show. Como os fãs do Rush são diferentes das outras bandas de rock. E como banda e público criaram juntos essa sinergia que elevou o Rush ao Olimpo da indústria da música: o Rock and Roll Hall of Fame.
A relação de um músico com o fã é um ponto inexplicável. A música (assim como outras formas de arte) serve, além de forma de expressão, como um refúgio do mundo que parece incapaz de compreender nossos problemas individuais. No início dos anos 70, entre toda a efervescência da época, o rock era uma espécie de linguagem universal entre os jovens – tanto que as bandas dessa década ainda são as primeiras que vem às nossas cabeças quando o assunto é rock and roll. Em meio a esse contexto, existe o Rush – uma banda canadense que, ao mesmo tempo em que se parece com suas contemporâneas, tem peculiaridades que a distanciam de tudo o que foi feito na música antes e depois deles.
https://youtu.be/IhFmVJ3utR8
O som e as letras do Rush sempre conversaram com um público diferente, ‘outsider’. Faz parte da adolescência encontrar uma banda que mude a percepção do indivíduo sobre o mundo; que ao tocar um disco, faça imaginar que aqueles músicos entendem exatamente como ele se sente. O Rush, mesmo fazendo música sempre à sua maneira, soube muito bem capitalizar esse sentimento. O rock, então, não era mais algo restrito aos rebeldes e valentões, o fã de Rush é em sua essência uma espécie de nerd da música.
O Rush construiu toda a sua reputação na estrada, tocando para o público e trocando energia diretamente com ele. Isso explica como, mesmo com a banda atravessando diferentes fases e sempre reformulando sua identidade sonora à medida que novos álbuns fossem lançados, a base de fãs se mantinha fiel. Quarenta anos e nunca pararam de gravar, nunca pararam de sair em turnê – exceto os três anos de hiato após a morte da filha e da esposa de Neil Peart. Em depoimento prestado no filme, alguns fãs dizem já ter assistido a banda ao vivo mais de 70 (!!!) vezes desde suas primeiras turnês nos Estados Unidos.
O fã é um coeficiente essencial para o rock, um dos princípios do gênero. É incrível que com mais de quarenta anos as mesmas pessoas se mantenham fieis à utopia que o Rush representa, tanto por sua mensagem explícita nas músicas como pelos valores cultivados pela própria banda. A amizade e respeito mútuo de três sujeitos que se mantiveram unidos até a última nota que tocaram juntos e que parecem caras normais como qualquer um. Para os fãs da banda, “Time Stand Still” (que conta com a narração do Paul Rudd, que também é fã do Rush) é um registro imperdível sobre uma banda única, que fez um som único, para gente única.